Será que o “cantinho para pensar” é a melhor maneira de corrigir um comportamento inadequado?

Muitos pais adotam o “cantinho para pensar” – um lugar onde a criança fica um tempinho pensando no que ela fez de inadequado – como meio de corrigir um comportamento inapropriado. Contudo, muitos deles relatam que nem sempre ele funciona.

Imagine que você fez um trabalho que julga adequado, mas ao apresentá-lo a seu superior recebe a avaliação de que o trabalho não está certo. Sem explicações e diretrizes, seu chefe pede para você refazê-lo e só se levantar da cadeira quando tiver terminado. Você se senta, mas não sabe por onde recomeçar porque não tem ideia de onde está a falha. 

Com a criança não é muito diferente: “Senta na sua cadeirinha e pense no que você fez!” A criança, como você, se senta, mas, se não souber o que está errado, não será capaz de pensar (refletir) sozinha. Ela precisa do adulto para mostrar-lhe o que houve de errado e, o mais importante, quais as consequências da inadequação do seu comportamento. Mostrar-lhe o que ela fez e falar sobre as consequências de tal comportamento é fundamental para que ele não se repita. Estar com a criança é,  ainda, uma oportunidade de transformar o momento de silêncio, afastamento e distanciamento que o “cantinho”  pode significar, num momento de aproximação, diálogo e aprendizado.

Birras e “birras”

Por volta dos dois anos, a criança, em geral, já domina seus passos e parte da linguagem verbal, o que a possibilita experimentar, com mais intensidade, o gostinho da independência. Suas conquistas, contudo, ainda esbarram em suas limitações, desejos e intoleráveis frustrações. Resultado: manipulação premeditada para chamar a atenção ou tentar conquistar o que deseja na hora em que deseja. Cenas de enlouquecer qualquer pai ou mãe. A técnica que quase sempre cessa este tipo de birra: ignorar o comportamento.

Mas o que fazer quando se ignora o comportamento da criança e a “birra” não tem fim? É necessário olhar para a criança e tentar entender o que acontecia no momento em que a “birra” começou. Aqui, provavelmente,  estamos diante de uma birra não manipuladora, uma birra resultante do transbordamento de alguma situação vivida pela criança: sono, fome, cansaço, super estimulação, frustração por não alcançar um objetivo que persistia, tempo insuficiente para realizar uma tarefa, falta de espaço para suas explorações, exigência na adaptação de uma nova situação, etc. Nestes casos, ignorar a criança jamais fará a “birra” cessar porque o que a criança precisa não é do afastamento do adulto, mas da sua contenção. A “birra” é um pedido de socorro, de ajuda. Por isto, um colo, um abraço, um toque ou uma palavra carinhosa acabam contendo com grande êxito o transbordamento, ajudando, assim, a “birra” chegar ao fim.